


Do mais alto de mim fui poeta... insinuei-me ao homem...
E realizo-me a cada dia ser consciente de muitos.
Quis a lei que fosse Jorge e Humberto, por conjugação
De um facto, passados anos ainda me duvido...
Na orla do Tejo sou Lisboa... e no mar ao largo o que houver.

Chamam-te Especial
Na profunda miséria de um hospital,
Confrontadas paredes e recantos fúteis,
Conheci o ser mais dócil e consensual,
Lembrando quão frágil é o animal
E do homem os esforços sempre inúteis,
Que, até ao dia de hoje, no mundo dos úteis
E descartáveis, me foi dado ver, tão natural
Como a sede, nos gestos mais dúcteis,
Em comparação com seus opostos,
Reais, imaginários, ocultos ou expostos.
E embora alheio a tudo, nesse mundo,
Tão só seu, era vê-la a sorrir, e sorrindo
dizia, no caminho que ia abrindo,
Às gentes do seu universo mais profundo.
Jorge Humberto
(in 20 Sonetos de Vida)
17/02/2004

Árvore
Sopro de vida,
Que nos verdes
Se desenvolve,
É consequência
Da sequência
Nos ramos
Com que se envolve
E reveste-se
De ninhos
E quando
Murmulha
São só passarinhos,
E fala
Do vento
Como fala
Da chuva.
Jorge Humberto
(in Fotogravuras III)
01/10/2003

Ser Poeta
Ser poeta,
É primeiro ser “homem”.
Ser poeta,
É ser-se menino,
E sorrir baixinho,
Enquanto
Os anjos dormem.
Poetas há-os aos centos:
Uns que são lamentos,
Outros a alegria,
E ainda
Outros tantos,
Que não versam de dia.
E há os repentistas,
E os populares,
Decadentistas
E renascentistas,
Houve-os aos milhares.
Ser poeta,
É criar um corpo,
Onde antes era nada.
E desse nada,
Outrora morto,
E chama apagada,
Recriar um porto,
E uma caravela fundeada.
Ser poeta,
É ter asas e voar,
Morrer a cada instante,
E de novo renascido,
Trazer no fresco do olhar,
Lá de um mundo,
A nós distante,
Algo antes nunca vivido.
Depois
Que for finda a viagem,
E a sua meta
Atravessada,
Ao poeta cabe revelar,
Que a porta por ele aberta,
Aos seus leitores
Deve uma parcela,
De tão sublime viagem.
Jorge Humberto
(in Mosaico)

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