Como disse Fernando Pessoa: "minha biografia possui só duas datas: a do meu nascimento e a da minha morte, entre uma e outra coisa todos os dias são meus."

 

Desabafos 

Preguiça de pensar! 
A história da minha vida me cansa!
Faz muitos anos e a pureza já não está guardada em meu coração, 
vicissitudes colaboraram para minha alma enrrudecer. 
Provei toda espécie de miséria. 
E toda espécie de miséria me provou... 

Olho em todas as direções e não vejo esperança de caminho... 
as portas estão fechadas para minhas vistas que estão turvas de pranto. 
Espanto! 
Longínquos tempos de infância que não voltam. 
O tempo não volta. 
Ainda bem! 

Se eu tivesse certeza que nada ia me custar falar, 
ainda assim eu não falaria...
calaria sobre uma noite vazia...
uma esperança que não vinha,
um sonho que eu tinha... 
perdido, 
esquecido numa rua que não era minha.
O mundo perderia uma conversa vazia!
uma conversa boba... 

A minúcia será o castigo de minha covardia. 
Minha humilhação é nunca ter tido quem eu tinha! 

Num tempo pretérito eu já procurava bondade e beleza, 
mas essas palavras são apenas conceitos. 
Não encontrei bondade, não encontrei beleza. 
Só o Aurélio respondia o que eu não via! 

Tenho as expressões confusas. 
Procurei alegria, encontrei tristeza. 
Busquei amor, vi traição. 
Aonde deveria ter vida, 
A morte marcou meu caminho. 
Tudo ilusão. 
imperfeição. 
Indecência.
Demência. 
Verdades.
Mentiras sem idade! 

Um estado de não-satisfação completa 
me direcionava para uma outra volúpia 
procura!
Assim farejei ideais. 
Pecados quase mortais!! 

Percebo
que em toda minha vida 
não compreendi o que me rodeava
muito menos as pessoas. 
Hoje sei que estive o tempo todo 
num lugar que não era meu, 
difícil dizer o porque das coisas, 
mais difícil ainda é saber o porque das coisas. 

O amor surgiu. 
Avolumou-se na entrega de corpo e alma, 
plena, 
total e completa. 

Lembro minha submissão absoluta. 
não a mulher, 
mas ao amor. 

Todo sofrimento da minha mãe me incomodava e resolvi que minha vida seria diferente. 
Errei. 
Pequei. 
Falhei. 
Ou foi o destino com sua mão pesada que ceifou minhas quimeras mais belas?
Já não importa a resposta!!! 

Falhei porque se me feriram foi porque permiti que me ferissem.
Facilitei suas tarefas com a doação despreocupada 
da minha alma... 
Eu era uma criança e só queria amar. 
amei, mas não fui feliz. 

Ninguém conseguiu alcançar a imensidade da minha oferta!!
Minha vida hoje me parece trágica. 
Absurdamente trágica!! 

Setembro de 2005 

Allan Julianelli 

 




Poema Sem título 

Gosto da cor, do cheiro,
da sua pele lisa e provocante,
das sardas aqui e ali dando charme,
sua boca me atrai, alimenta meus desejos,
preciso do roçar suave e provocante, 
tenho que tocar, sentir o gosto. 

Gosto do seu beijo, 
do abuso de línguas,
da troca de sabores e gostos,
das provocações que me aquecem, 
do seu jeito abusado de mordiscar os lábios, 

Gosto de suas mãos,
quero-as ao redor de mim,
no beijo penduradas em meu pescoço,
preciso daquele seu entrelaçar faminto,
quero massagens relaxando meu corpo,
na hora do orgasmo que me arranhe,
para que depois do prazer me acaricie. 

Gosto de seu corpo,
do jeito que me provoca em silêncio,
Adorei seu primeiro abraço, quero outros
Me propõe ficar com você,
Ainda não esqueci seu beijo, quero vários
Quero me perder na estrada do teu corpo,
Me propõe mais
deixe-me amanhecer junto 
quero te dar um beijo com gosto de ontem, 
dizer coisas maliciosas
deixando no ar frases soltas, 
lindas, sentidas, compreendidas, desejadas,
ansiadas e amadas que desarmam com tensão e tesão.

Gosto do seu amor,
quando deixa a ternura em meus olhos,
gosto do seu ausente presente carinho
que chega na hora que bate a saudade,
gosto do seu "te amo" a toda hora
que desarma minhas defesas... 

Prometa-me que jamais vai se perder de mim
Não deixe que esse sentimento se transforme em mal-querer
Na inevitável partida que há no fim
Deixa-nos eternizados na boa lembrança... 

2002 

Allan Julianelli 

 



Eu Anoiteço 

Te peço desculpas 
Pela vileza dos pensamentos... 
Por noites insones rolando em tua cama 
Percorrendo milhares de quilômetros,
Vagando pensamentos em tuas lembranças
Buscando descobrir o que nem tu sabia... 

Como sobrevivente no bailar entre dia e noite
Me divido entre castidades e pecados
Por onde andam os personagens de outrora?
Em que endereços se escondem?
Que túmulos habitam? 

A vida, implacável, vai varrendo os sonhos...
Os fracassos, como fantasmas, assombram meus dias
Que se transformam num desfile de grandes perjúrios,
De promessas não cumpridas,
De vilezas e santidades...
Escolhas mal feitas... 

Onde andará meu jovem semblante?
Que espelho de vida transmuta feições e esperanças?
O meu desejo é que o jovem eu retorne,
Volte e seja fiel a sua palavra de antes
Onde o compromisso com a felicidade 
era só o que existia de real e relevante,
É o que peço! Eis meu apelo! 

Que seja uma daquelas criaturas para as quais nada é perdido,
Para quem tudo é esperança e o pensamento uma só alegria: a de existir! 

Vil pedido desesperado
Não há quem escute prece agonizante!!!
Os deuses inexistentes não ouvem!
A vida: é cega, muda e surda!
O mar: distante...
O amor: tristeza e decepção!
Tu? Se perdeu pela vida em alguma esquina
E deixou meu coração desabitado... 

O tempo anda e eu anoiteço! 

Minha maior perplexidade é fazer parte daquilo onde não estou contido
Mundo ambíguo, dissimulado...
O silêncio é o vácuo, horror do abismo! 

Minha vontade é que tu se depreenda das amarras que cerceiam a liberdade,
Dos muitos propósitos descabidos,
Das coisas poucas...
Liberta-te do muro que ergueram ao teu redor...
Livra-te das algemas!!
Tu é instrumento da tua ventura 
E com tuas fortes mãos (sim elas são fortes)
Escreve teu destino,
Esculpe tua felicidade de propósitos enormes,
Realiza teus desejos,
Voa, voa alto!
Sonha, sonha forte, como só os fortes sonham (sim tu és forte),
Caminha teus próprios caminhos. 

Encontra teu riso porque ele é lindo e rico,
Busca o amor, que mesmo não sendo perfeito, é o sorriso do poeta 
E tu sabes o poeta enfeita a vida...
Rima! Faz da tua vida um soneto, um lindo soneto de esperança e glória! 

Nos momentos de paz e serenidade
Lembra de mim vez ou outra
Recorda as minhas muitas loucuras
Os meus muitos sonhos não realizados 
E alguns outros que vivemos...
Das nossas lacunas e erros
Tira proveito como lição de vida... 

Nas horas de tristeza, onde o coração aperta o peito
Me liga, me procura...
Deixa eu te proteger, te roubar as dores...
Deixa eu velar teu sono
Espantando os horrores que se escondem pela noite. 

Finalmente lembra, sobretudo, do meu amor incontido
Sempre exagerado, enorme... 

Pra tu me mostrei sem máscaras
Sincero, honesto, sem disfarces.
Pensa sempre que só te quis feliz!
E percebi tua alegria, mesmo que por breves momentos
Em honra disso não vou maldizer a vida... 

Tu foste para mim um presente divino
Nosso desencontro obra do acaso da vida
que não tem lugar para "happy end". 

O tempo continua andando,
E eu? Eu anoiteço mais ainda! 

Rio de janeiro, 09 de outubro de 2004 

FORFM. 

Allan Julianelli

 

 

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