Humberto Rodrigues Neto 

Nasci em São Paulo - Capital, em 11 de novembro de 1935, filho de pai português (Soure) e de mãe brasileira descendente de Madeirenses, origens das quais muito me orgulho.

Sou viúvo, espírita, aposentado, tenho quatro filhos, todos homens, de cujas noras fui agraciado com duas netas e dois netos. 

Meus passatempos são, pela ordem, literatura, navegação pela NET, plantas, folhagens e flores, viagens, cinema, teatro, etc.

Desde muito cedo, já nos bancos do grupo escolar, adorava folhear aquelas cartilhas da infância e encontrar trovas ainda simples, mas que me encantavam sobremodo, interesse que recrudesceu quando passei para o ginásio e descobri que havia poesias muito mais interessantes e sugestivas que as primeiras, passando, daí em diante, a ler todos os grandes poetas brasileiros, portugueses, e traduções de grandes mestres nessa arte, sobretudo franceses, italianos espanhóis e ingleses.

E o que mais me agradava era ver com que técnica tais poetas compunham seus sonetos! Chegava mesmo a sentir-lhes inveja por aquelas coisas magníficas que escreviam, verdadeiras gemas literárias engastadas no magnífico acervo das letras luso-brasileiras e estrangeiras. 

Passei, então, a compor minhas poesias, entre as quais sonetos, e ficava muito triste quando recorria a um editor para publicá-las e ele me pedia uma remuneração, sem a qual meu intento não poderia ser atendido. Como achava aquilo um absurdo, desisti e nunca publiquei livro nenhum. Alguma coisa que tenho escrito anda por aí, dispersa em alguns jornais e, agora, felizmente, em sites poéticos. 

Penso que o soneto seja o que de mais transcendental exista em matéria de poesia, pois é muito difícil de compor, mas compensa a perda de fosfatos que venhamos a despender na sua elaboração. 

Pela versatilidade com que se adapta a qualquer tema, seja lírico, romântico, épico, e até mesmo satírico, penso não haver outra forma de poesia em versos rimados que se lhe compare, tanto na emoção como na expressividade daquilo que o poeta deseje extravasar.

Eis aí um rápido esboço da minha pessoa.
 



 


Impossibilidade
Humberto Rodrigues Neto

Não vejas mal nos pobres galanteios
que eu te dirijo... Esquece-os. Considera
todos, todinhos, uma vá quimera,
não mais que uma tolice sem rodeios.

Tua mocidade de tal modo altera
meus sentimentos, meus tardios anseios,
que dá-me n´alma uns trágicos receios
de estar vivendo um fim de primavera.

Que ingrata sorte, mísera e covarde,
me faz supor, tão tristemente tarde,
a vida minha vida e a tua vida juntas!

E tantos males esse amor me há feito
que hoje o que bate dentro do meu peito
é um sino ao dobre de ilusões defuntas!
 



 


Angústia
Humberto Rodrigues Neto

Supor em ti um céu sutil, de bens extremos,
te idolatrar, cativo sempre a um sonho insano
é cultivar no íntimo d'alma o acerbo dano
de não gozar, do amor em si, os bens extremos.

Nosso romance, que eu em sonho inda profano,
mas que nós dois por puro e limpo concebemos,
jamais leremos sem que a letra em que o grafemos
omita os verbos do ancestral pecado humano!

Como alhear-me a esta ansiedade intensa e louca
de ter nos lábios a carícia da tua boca,
e ao teu fascínio me fingir de indiferente?

Jamais me peças pra esquivar-me à sedutora
ânsia de ter-te, pois pra tal preciso fora
dar-me à renúncia de te amar tão loucamente!
 



 


Dilema
Humberto Rodrigues Neto

Vê, doce “Estrela”, que tormento deu-me a vida,
trazendo a mim, quase em final de caminhada,
esse teu ser, que é um quase anjo...um quê de fada,
pra defini-lo de uma forma resumida!

Em desespero, esforços mil o instinto envida
pra ter tua vida, para sempre, à minha atada,
sem se importar se essa vontade desvairada,
ou se esse anseio as leis da ética transgrida!

Eis o dilema de consciência em que me arrasto:
ver no desejo o meu fatídico tirano,
ou manter n'alma o que ela tem de puro e humano!

Não sei qual siga, preso a amor tão amplo e vasto:
se o meu instinto, que o deseja assim profano,
ou se a minh'alma, que o concebe puro e casto!
 



 


Saudade...
(a minha esposa, in memorian)
(Humberto Rodrigues Neto)

Teu desencarne fez-me descontente,
com a alma e o coração sempre em quebranto;
do nosso lar foi embora o antigo encanto
que tu levaste assim... tão de repente!

Do alto onde estás podes sentir o quanto
por ti pranteio ao te sentir ausente,
e nada existe que tão fortemente
me incline à solidão e ao desencanto!

Não mais teus lábios, nem os teus abraços
tentei buscar noutros alheios braços,
preso à paixão que só por ti nutria!

E hoje vergado a esta infelicidade,
a Dor se fez a esposa do meu dia,
e à noite faço amor com a Saudade!

São Paulo / Brasil
 


 

 

Nada!

(à minha esposa, in memorian)

Humberto Rodrigues Neto

 

Ela se foi, Senhor! E tão distante

vai ficando o meu tempo de ventura...

Em mágoa acerba vou seguindo adiante,

sucumbido a esta cármica amargura!

 

Até a floreira, outrora luxuriante ,

que ela cuidava com gentil candura

mirrou, numa apatia agonizante,

solidária com a minha desventura!

 

Oh! Meu Deus, que sois justo e onipotente,

dispensai-me um minuto de bondade

e ouvi da minha prece o tom plangente:

 

se sentis quanto punge esta saudade,

apagai-a, Senhor, da minha  mente,

ou dai-me ao lado dela a eternidade!

 

 

 

 

 

As Nove Musas

Humberto Rodrigues Neto

 

Liberadas por Zeus lá no Parnaso,

as nove musas resolveram vir

ao nosso mundo, num adejo raso

para outras musas tentar descobrir.

 

Calíope empunha a prancha e o buril,

traz Clio de um pergaminho os simulacros;

Euterpe sopra a flauta pastoril,

entoa Polímnia suaves hinos sacros...

 

Dedilha Érato a melíflua lira

e poemas canta no rigor do metro;

ao compasso de Urânia o globo gira,

dança Terpsícore da lira ao plectro...

 

E se Tália à Comédia se cingia,

e de hera coroada gargalhava,

Melpômene, a Tragédia resumia,

na máscara da dor, grinalda e clava!

 

Finda a pesquisa, feita em muda enquete,

conclui o grupo o seu trabalho e estima

que há milhares de musas na Internet

tão boas quanto aquelas lá de cima!

 

 

 

 

 

Maria Das  Flores

Humberto Rodrigues Neto


A orquídea que um dia foi na mocidade
em dias de fastígio e de ventura,
Maria ainda conserva com amargura
no cofre imorredouro da saudade.

Do lírio, então em plena formosura,
guarda apenas na mente a suavidade;
hoje tímida violeta fê-la a idade,
ou um miosótis sem viço e sem candura.

Maria agora traz o olhar vermelho
das lágrimas choradas frente ao espelho,
ante um rosto que franze e se esfacela!

Pranto de perda da falaz vaidade,
tributo amargo da fatalidade
de um dia ter sido tão formosa e bela!