ANA SUZUKI POR ANA SUZUKI

Sou brasileira, sem um pingo de sangue japonês, mas casada desde 1972 com Tadao Suzuki, de Fukushima-Ken, Japão. Nasci em Taubaté, no Vale do Paraíba, fui criada no Rio de Janeiro e, como filha de militar, rodei por muitas cidades no eixo Rio-São Paulo. Sou uma mistura do caipira com o suburbano, porém com o dom de perceber e assimilar diferenças culturais, tanto assim que, além de premiada pela Associação Brasileira de Cultura Japonesa, o Bunka Kyokai, também o fui pela Aliança Cultural Brasil-Lituânia, a Sajunga, por haver também criado a primeira personagem lituana.
Minha família é pequena. Perdi vinte tios, vários primos, meus quatro avós, pai, mãe, um genro e um filho. Diante de tantas perdas, só pedi a Deus que jamais permitisse que eu me tornasse uma mulher amarga. E fui atendida.
Chorando ou rindo, jamais me escapa o lado cômico de nossa existência terrena. Minha essência é feita de amor e humor. O resto é circunstancial.
Eu pretendia continuar explorando diferenças e semelhanças culturais das diversas etnias que constituem a nação brasileira, mas parei de escrever romances para dedicar-me à literatura infanto-juvenil, talvez por saudade da minha infância, do meu pai, da minha mãe, dos nossos quintais cheios hortas, galinhas, cabras e porcos. Depois veio a internet e criei um grupo, com o nome de "Trem das Onze", que durou seis anos mas tive que extinguir para dedicar-me a uma paixão maior - minha netinha Beatriz. Meus e-books quero deixar para ela, assim como já deixei os exemplares de cada livro impresso que publiquei.
 





Abandono

Terezinha não era de Jesus,
não era de ninguém,
nem ao menos de seus pais.
Dormia na rua,
gemia ao frio da noite,
roubava para drogar-se.

Um dia ela ouviu dizer
que nascer é um direito.
Foi o único dia em que riu,
primeiro bobamente, depois chorando,
porque já não sabia distinguir
 entre o direito e o torto.





Serenidade

Virei água morna que se recusa
e tampouco a esfriar.
e quero manter-me assim,
sem arrepios de gelo
nem tremores de fervura.

Virei rio de planície
sem securas na vazante
ou desatinos na enchente.
Já no corro, só deslizo.
Entre lírios e serpentes,
eu deslizo.





Você me dói

Você me dói.
Não sei em que parte do meu subconsciente,
em que sala, caverna ou porão,
você me dói.
Não sei se por fora,
na pele que treme,
se por dentro,
nas vísceras que sustentam,
se lá longe,
nos ossos do nosso futuro...
Em alguma parte do meu ser
e do seu,
algum lugar do céu
ou do inferno,
do macro e do microcosmo,
algum lugar feliz e desesperado,
que não sei onde,
você me dói.


 

 

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