Pés



Descalços ou calçados, às vezes aos chinelos não vêm ao caso
Te levam por todos os caminhos, são pisantes ou caminhantes
Par andante sem sossego, ao teu corpo andam presos em livres andares
Por vezes estropiados pelas pedras que chutas, são gigantes diminutos
Desbravadores e companheiros nesta incansável passagem
Sempre contigo em todas as viagens, não há descanso em seus pisares


Seus movimentos às vezes lentos na precavida de algumas surpresas
Pois é certo que na caminhada a lerdeza pode ser não ir em frente
Mas é preciso ter um certo jeito para evitar muitos atropelos
Andam ligeiro quando a hora é curta na distância que se alonga
Percorrem todos os espaços e em muitos passos andam sem parar
Também dançam com outros pares em harmonia musical
E nos bailes da vida encontram seus semelhantes
Há amores estonteantes em beijos dançantes no escuro dos salões


São patinantes que ao gelo deslizam em acrobáticas coreografias
Pés que disparam e saltam girando o corpo em sincronizados rodopios 
Todos os mapas de geografia desenhados com a lâmina dos patins
São amigos da bola que com carinho no verde da grama conduzem
Reluzem nas chuteiras coloridas e brilham por todo mundo
Conhecem a dor do ostracismo e o júbilo da glória e da fama
São asas ao chão que vencem a resistência do vento
E mesmo no revezamento encurtam o relógio do tempo


São finos, delicados e perfumados ao cheiro de tua pele
Macios e provocantes na sensual silhueta de tuas pernas
Femininos que se adornam em cravejadas unhas pintadas
São belos e sedutores de um pisar suave e delicado
Ao se sentirem acariciados se vestem em arrepios
E se entregam sem pudores aos beijos de um amor sem fim

 



Cândido Pinheiro
26 Fevereiro 2004
Santa Maria - RS - Brasil